Boy Erased: Uma Verdade Anulada

Boy Erased: Uma Verdade Anulada (2018)

Dirigido por Joel Edgerton


Título original
Boy Erased
Lançamento
24/09/2018
Gênero
Drama
Duração
1h 55m
Sinopse
O filho de um pregador batista é forçado a participar de um programa eclesiástico de conversão homossexual quando seus pais o forçam a sair do armário.
Elenco
9.0

Publicado em 24 de janeiro de 2024

Boy Erased: Uma Verdade Anulada

Por Vandeson NunesVandeson Nunes

Tempo estimado de leitura: 4 minutos

Os minutos iniciais de Boy Erased: Uma Verdade Anulada despertam uma curiosidade gritante sobre o que está acontecendo com o protagonista. Imediatamente mostrado em flashbacks como um bom rapaz, popular na escola e filho exemplar, o jovem Jared Eamons dá entrada numa peculiar clínica, com regras rígidas e protocolos dignos de presídios. Mas o que ele teria feito para estar ali? Será que assumir a sua homossexualidade para sua família conservadora e religiosa é uma ofensa que justifica seu encaminhamento para um centro de reabilitação onde pessoas se “curam” e mudam suas opções sexuais, algo que até ele acredita ser algo certo a se fazer? Baseado no livro de Garrard Conley, onde o autor compartilha suas duras experiências para mascarar a verdade sobre que ele até o momento que chega a aceitação, o longa dirigido pelo ator Joel Edgerton, um dos melhores da atualidade (vide Guerreiro e Aliança do Crime), é um importante e eficiente trabalho sobre um tema que sempre precisa ser debatido, afinal a ignorância a respeito de um assunto tão delicado e polêmico como a “Cura Gay” é um dos motivos exaltam o preconceito na sociedade. Se nos dias atuais, onde o combate contra a homofobia ou qualquer outra forma de preconceito se mostra forte (ainda há vários casos absurdos envolvendo aceitação e mudanças sexuais), imagine nos anos 2000, época onde o longa se passa. Naqueles anos, apesar do esforço da mídia e de muitos grupos para ajudar, a comunidade LGBTQ não tinha o mesmo poder de compartilhamento de informações e apoio que possui hoje e Edgerton nos mostra como isso prejudicou uma geração que precisava do acolhimento correto. Conter a indignação com o tratamento dado a Jared e outros jovens na clínica é uma tarefa infeliz. Usando a religião como meio de tratamento e uma brutal psicologia, com fortes cenas de abuso físico, como o enterro simbólico de um jovem que “expurgou seus demônios”, a terapia comandada pelo fervoroso e hipócrita pastor Skyes (uma boa atuação do próprio Edgerton) só serve para despertar a descrença e a tristeza em todos presentes e ao público. O roteiro explora alguns pacientes e seus dramas particulares e suas dificuldades de interação social e familiar, marcada por violência e solidão, mas o caso de Jared, obviamente, é o que mais encontra voz. Ajuda muito o fato de termos um ator como Lucas Hedges aqui. Injustamente ignorado pela academia, o jovem ator, que até o momento só participou de elogiadas produções, como Lady Bird (onde viveu rapaz que esconde sua homossexualidade), Três anúncios para um Crime e Manchester a Beira-mar (filme que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), entrega uma tocante e contida performance. Falando mais através de seus olhares e expressões, seu Jared é um retrato daquele jovem que só quer se aceitar e ser aceito, cuja revolta e desespero em ser ouvido explodem numa determinada cena onde Hedges grita pelo apoio que precisa. Quem passa ou já passou por isso se identifica, mérito do ator e do ótimo texto. Não menos estupendos, Russell Crowe e Nicole Kidman repassam perfeitamente como alguns pais reagem à situação. Enquanto Kidman entrega uma mãe que, apesar de querer que seu filho mude, o ama acima de qualquer coisa e o apoiará, Crowe, como um pastor, demonstra como toda a desinformação e ignorância sobre o assunto que citei acima podem privar uma relação familiar de todo o afeto que precisa. Embora deixado de lado ao longo da projeção, Crowe retorna no final, onde tem um diálogo visceral e comovente com Hedges e que mostra o quão maduros os dois homens se tornaram apesar da falta de aceitação ainda se fazer presente. Com Boy Erased: Uma Verdade Anulada, Edgerton nos brinda com uma obra que serve como uma arma contra a intolerância e preconceito e como um hino ao direito de sermos quem somos sem prejudicar ninguém.