Diversas guerras eclodiram devido a questões religiosas. Ao longo da história, milhares de vidas foram ceifadas por conflitos motivados pela fé. Dentre esses conflitos, pode-se destacar as Cruzadas, que perduraram entre os séculos XI e XIII, cujo objetivo era conquistar a então chamada Terra Santa, hoje conhecida como Palestina. Estima-se que mais de 1 milhão de pessoas perderam a vida devido às Cruzadas. Apesar de a religião ser um ótimo meio para manter a ordem, também serve como combustível para incentivar as pessoas a lutarem pela sua crença. A continuação de Duna trata disso muito bem, ao mostrar que pessoas que antes pareciam perdidas à espera de um salvador, agora arriscam suas vidas ao seguir aquele que consideram ser o seu salvador. Denis Villeneuve está de volta na direção da continuação do filme de 2021, Duna: Parte 2. Lançado em 2024, adaptado do romance de Frank Herbert, o roteiro é um trabalho em conjunto de Jon Spaihts e Villeneuve. Se na primeira parte o filme estava conectado a amarras justamente à espera do segundo filme, agora eles estão livres para mostrar todo o potencial que o universo criado por Herbert tem. Mais ousado, e agora tendo que finalizar o que havia sido iniciado no anterior, os povos de Arrakis são melhor explorados. As tramas iniciadas são praticamente todas finalizadas. Porém, o filme deixa abertura para um último filme que já foi confirmado pelo diretor. Com isso, o universo de Duna nos cinemas, comandado por Villeneuve, se encerrará em uma trilogia. Visualmente, o filme é belíssimo. Dessa vez, usa mais planos abertos e mostra melhor o planeta que um dia foi conhecido como Duna. Também explora mais as Shai-Hulud, as minhocas gigantes de Arrakis, entregando algumas "set pieces" belíssimas. Tudo isso é acompanhado, mais uma vez, de forma brilhante pela trilha sonora de Hans Zimmer. A composição se encaixa ainda melhor ao filme, aumentando ainda mais a magnitude das cenas. As cenas de luta bebem um pouco da "era John Wick" e não utilizam câmeras tremidas. Em conjunto com cortes, mais planos fechados e menos planos abertos, as lutas são bem encaixadas no filme e trazem uma emoção extra. No entanto, não é apenas a fotografia, trilha sonora e cenas de luta que fazem de um filme uma ótima experiência. O elenco tem um peso fundamental para que o filme proporcione tudo aquilo ao qual foi idealizado. E em Duna, todo o elenco convence e entrega atuações acima da média. Timothée Chalamet volta a interpretar Paul Atreides, mas dessa vez com mais espaço para mostrar que é um bom ator. O seu personagem é mais exigido, mais complexo, com mais espaço para o ator brilhar. Se o Paul do primeiro filme parecia um garoto inseguro, em busca de entender melhor o seu eu interior, evitando ser aceito como o escolhido, agora ele se mostra um adulto, maduro e mais forte, que abraça o seu papel nas areias de Arrakis. Zendaya, que teve uma participação pequena antes, tem sua personagem melhor aproveitada, dando mais espaço para que ela desenvolva melhor sua personagem, Chani. Para uns personagens ganharem espaço, outros precisam abrir as portas para isso. É o que acontece com o personagem de Rebecca Ferguson, que interpreta a mãe de Paul, Jessica. A atriz continua ótima no papel. Javier Bardem e Josh Brolin ganham mais relevância, embora Bardem brilhe mais ao interpretar Stilgar, Brolin continua bem ao dar vida a Gurney Halleck. A surpresa do filme fica com Austin Butler, que interpreta Feyd-Rautha, o sobrinho do Barão Vladimir Harkonnen. Se o antagonista do primeiro filme foi um dos pontos mais fracos, aqui a melhora é significativa. O que não quer dizer que a atuação de Dave Bautista, que interpretou Beast Rabban, um dos antagonistas do primeiro filme, seja ruim. Na verdade, o roteiro acabou não funcionando bem para ele. No entanto, Feyd é um personagem mais interessante e é o tipo de vilão que se satisfaz com o caos sem precisar de explicações. É aquele ser maldoso que causa sentimentos de repulsa ao espectador. E se Butler conseguiu fazer com que o espectador o odiasse, é porque ele trabalhou bem seu personagem. Duna: Parte 2 é a continuação que quem gostou do primeiro esperava, e quem não gostou possivelmente foi surpreendido com um filme superior ao seu antecessor. Se o primeiro filme pareceu parado para algumas pessoas, o segundo não decepciona e proporciona um resultado final muito satisfatório. "Vida longa aos guerreiros"