Articulações políticas, em busca de benefícios próprios, fazem parte do mundo contemporâneo em praticamente todos os países democráticos. A união de dois ou mais grupos, com o objetivo de vencer outros, nunca esteve tão presente como nos dias de hoje. E, à medida que os anos passam, a intolerância aumenta, ao ponto de pessoas se matarem por fazerem parte de grupos opositores. Em “Duna”, filme lançado em 2021, grupos se unem para conspirar contra aqueles que ameaçam seu ego através da popularidade, que não é bem vista por quem está no topo da cadeia do poder. Dirigido por Denis Villeneuve, conhecido por outros filmes de ficção científica, como o aclamado “A Chegada” de 2016, o diretor também é responsável pelo roteiro, que foi criado em conjunto com Eric Roth e Jon Spaihts. O filme é adaptação de um dos romances de ficção científica mais vendidos e mais conhecidos da história, "Duna" de 1965, escrito por Frank Herbert. David Lynch lançou a primeira adaptação do romance em 1984, mas não foi bem recebido pela crítica e não teve o sucesso de bilheteria esperado. Por isso, em vez de cometer o mesmo erro do filme de 1984, que ficou corrido e não teve muita riqueza de detalhes por condensar a história em um único filme, Villeneuve decidiu adaptar o romance em dois filmes, tendo assim mais tempo para desenvolver os personagens e as tramas. O filme é um deslumbre visual, ganhou 6 Oscars em 2022, dentre eles melhor fotografia e melhores efeitos visuais. Hans Zimmer levou para casa a sua segunda estatueta de melhor trilha sonora, a primeira havia sido em 1995 com a animação "O Rei Leão". O trabalho de Zimmer complementa perfeitamente o aspecto visual do filme. Com uma trilha sonora que ajuda a imergir na imensidão das areias de Arrakis, ela é marcante como geralmente acontece nos trabalhos de Zimmer. Villeneuve parece ter escolhido o primeiro filme para trabalhar mais o desenvolvimento dos personagens e apresentar um pouco das dunas de Arrakis. Por isso, algumas pessoas podem achar o filme um pouco lento, sem muita ação. No entanto, essa primeira metade que é mostrada no primeiro filme é fundamental para preparar o terreno para o segundo filme. Ou seja, "Duna" como um filme único acaba não sendo algo extraordinário por ser dividido em duas partes e deixando muitas pontas soltas, o que era de se esperar pela divisão da história em dois longas-metragens. Esse motivo causou algumas críticas, como a de um filme bonito por fora, mas sem essência por dentro. Entretanto, se olhado com menos preciosismo, as chances de gostar de "Duna" aumentam. Cinema é uma experiência, e no geral a experiência com o filme de Villeneuve é muito boa. O mundo de Arrakis é muito bem construído, sua atmosfera nos faz acreditar que realmente é um planeta diferente da Terra. Algo que George Lucas também conseguiu em "Guerra nas Estrelas" de 1977. Embora Lucas nunca tenha dito publicamente que se inspirou em elementos da história de Duna para criar os seus Jedi, as semelhanças são inúmeras. Além do visual estupendo, algumas atuações chegam bem próximas disso. Como é o caso de Rebecca Ferguson, que interpreta Lady Jessica Atreides, sem dúvidas é o destaque do filme. Timothée Chalamet dá vida ao filho de Jessica, Paul Atreides, que, apesar de não chegar ao nível de Ferguson, fica bem próximo e entrega uma boa atuação. Oscar Isaac completa a família Atreides ao interpretar Duque Leto Atreides. O antagonista do filme é vivido por Stellan Skarsgård, que interpreta o Barão Vladimir Harkonnen e acaba ficando um pouco em segundo plano. Mas pelo pouco que aparece, Skarsgård deixa uma interpretação digna de vilão. O filme ainda conta com Jason Momoa e Josh Brolin, que interpretam personagens secundários, com Momoa interpretando Duncan Idaho, um espadachim da casa dos Atreides, e Brolin dando vida ao mestre de armas da casa Atreides, Gurney Halleck. Javier Bardem e Zendaya interpretam integrantes da tribo Fremen, Stilgar e Chani, respectivamente. O filme empolga e aumenta a expectativa para a continuação. No entanto, acaba segurando um pouco o seu potencial ao preparar o terreno para a sequência, como ao detalhar melhor os Fremen, mostrando como conseguem sobreviver em Arrakis e explorando mais os seus costumes. "Além do medo, o destino aguarda"