Era Uma Vez em… Hollywood

Era Uma Vez em… Hollywood (2019)

Dirigido por Quentin Tarantino


Título original
Once Upon a Time... in Hollywood
Lançamento
24/07/2019
Gêneros
Comédia, Drama, Thriller
Duração
2h 42m
Sinopse
Um ator de televisão apagado e seu dublê se esforçam para alcançar a fama e o sucesso na indústria cinematográfica durante os anos finais da Era de Ouro de Hollywood.
Elenco
10.0

Publicado em 20 de janeiro de 2024

Era Uma Vez em… Hollywood

Por Vandeson NunesVandeson Nunes

Tempo estimado de leitura: 4 minutos

Em toda a sua filmografia, o cineasta Quentin Tarantino sempre exalou sua paixão e devoção ao cinema e suas diversas fases e vertentes. Os filmes de lutas orientais (Kill Bill), os faroestes italianos (Django Livre), as produções B lançadas em Grindhouses (À Prova de Morte), cinema europeu (Bastardos Inglórios) e até o blaxploitation (Jackie Brown). Foram oito filmes (ele considera Kill Bill um projeto ímpar) que, graças aos seus instigadores e envolventes diálogos carregados de cultura pop e boa dose de violência, proporcionaram ao público diversas homenagens à sétima arte. Com Era uma Vez em… Hollywood, a maior revelação dos anos 90 oferece uma ode a era de ouro da cidade das estrelas, além de um estudo sobre a indústria da TV em seus primórdios. O longa é ambientado no final da década de 60, onde o narcisista astro de TV Rick Dalton (um soberbo Leonardo DiCaprio, numa atuação digna de Oscar) vê sua carreira ruir após uma malfadada investida no cinema. Sempre acompanhado pelo seu dublê e faz-tudo, o descompromissado e misteriosos Cliff Booth (Brad Pitt, excelente), o ator busca voltar aos holofotes, mas só conseguiu pequenos papéis como vilões em seriados, um velho truque hollywoodiano que consiste em colocar atores outrora famosos em papéis antagônicos a fim de alavancar carreiras de novos talentos. Em paralelo, acompanhamos a badalada vida da atriz em ascensão Sharon Tate (Margot Robbie) e o envolvimento de Booth com uma misteriosa seita hippie comandada pelo manipulador e dissimulado Charles Manson (Damon Herriman, assustadoramente idêntico ao psicopata e reprisando o papel de Mindhunter), que resultará numa tragédia responsável por mudar a história. Depois de seu trabalho em Kill Bill, Tarantino adotou um estilo visual e narrativo mais afastado da realidade, características de seus filmes voltados à máfia (Pulp Fiction, Cães de Aluguel e Jackie Brown), e Era uma Vez em… Hollywood, apesar de usar um evento real como fundo, abraça essa vertente do cineasta, usando a mesma coragem e genialidade usada em Bastardos Inglórios para mudar certos fatos em prol do fantástico roteiro. É válido pensar que a falta de conhecimento prévio do espectador sobre os crimes do clãs Manson ou sobre o mundo audiovisual dos anos 60 pode prejudicar a imersão naquela época, mas o diretor não tem pressa e meticulosamente nos transporta para as ruas repletas de anúncios, glamour e hippies com maestria. E o grande mérito disso vem graças ao um estupendo trabalho técnico que torna aquela Hollywood apresentada indubitavelmente crível. A fotografia de Robert Richardson se sobressai por não optar tons amarelados e sépticos condizentes com diversas produções da época e já usados por Tarantino no projeto Grindhouse e que poderiam causar estranheza. O que temos aqui são imagens limpas e vigorosos enquadramentos que cativam a atenção do público casadas com um dos melhores trabalhos de direção de arte do ano (cortesia de Barbara Ling) que, seja nas ruas de Los Angeles, nos sets de filmagens ou no rancho da família Manson, conseguem passar toda a magia e tensão do período. E nunca antes a paixão do diretor por pés foi tão exaltada como pode ser visto aqui. Outro grande trunfo é a música. Como não poderia faltar num longa tarantinesco, a trilha sonora é completamente envolvente. Paul Revere & Raiders, Neil Diamond (a música Brother love’s traveling show começa com a frase “Uma noite quente de agosto”, remetendo aos crimes de Manson em agosto de 1969), Los Bravos, The Mamas & the Papas e outros grandes artistas só comprova o talento do cineasta de escolher bem as canções que compõem suas obras. O elenco é afiadíssimo. Além dos ótimos desempenhos de Pitt e DiCaprio, contamos com grandes performances de Al Pacino (em seu melhor papel em anos), Bruce Dern, Dakota Fanning, Luke Perry, Damien Lewis (fenomenal como o astro Steve McQueen), Mike Moh (involuntariamente hilário como o lendário Bruce Lee) e outras surpresas que fazem as quase três horas de projeção um delicioso passatempo. Era uma Vez em… Hollywood é um fiel, cômico e até comovente retrato de uma era marcada pelo glamour do cinema e pela decadência da sociedade americana graças a um crime brutal. Só esperamos que o cineasta repense sobre a prometida aposentadoria…