“A vingança é um prato que se come frio" – uma frase cuja origem remonta ao romance "Matilde", do escritor francês Eugène Sue, no século XIX – encapsula a essência sombria do ato de vingança: um planejamento meticuloso e impiedoso que, ao final, só traz destruição. É com essa premissa que Park Chan-wook constrói a trama de seu filme de 2002, explorando como a vingança, em sua frieza calculada, afeta irreversivelmente todos os envolvidos. Ao analisar a frase em comparação com casos reais motivados por vingança, é comum notar que, geralmente, a vingança é um ato planejado friamente. No entanto, também é sabido que a vingança não repara o que a motivou e, consequentemente, só traz mais perdas para qualquer lado envolvido. O ritmo que o diretor consegue transpor ao longo do filme é extremamente satisfatório de acompanhar. Além de Chan-wook, o roteiro também conta com a participação de Lee Mu-yeong, Lee Jong-yong e Lee Jae-sun. O filme conta a história de Ryu (Shin Ha-kyun), que é surdo e mudo, e está tentando ajudar sua irmã (Im Ji-eun) a conseguir um transplante de rim para salvar sua vida. A história começa devagar, apresentando os personagens sem pressa; problemas surgem, e decisões são tomadas. A partir do momento em que os personagens já se encontram mergulhados em um conjunto de decisões ruins, simplesmente optam por seguir assim mesmo para ver até onde vai dar. Os personagens são bem desenvolvidos, e o desenrolar da história é bem amarrado. O filme possui algumas camadas interessantes, além do fato de que inserir um personagem com deficiência auditiva proporciona momentos únicos. E, por mais que existam outros filmes que também retiram o som para que o espectador se sinta na pele de um personagem surdo, é sempre bom ter mais filmes que consigam inserir esse elemento adicional de forma bem executada. Portanto, além de bem dirigido, o filme também conta com um elenco competente, com destaque para a atriz Bae Doona, que interpreta a namorada de Ryu, Yeong-mi, e o ator Song Kang-ho, conhecido por seu trabalho no filme "Parasita" (2019), que aqui interpreta Dong-jin, pai da garotinha Yu-Sun (Han Bo-bae) e presidente de uma empresa de manufatura. O roteiro brinca com o espectador de forma inteligente ao mostrar um caminho óbvio e depois surpreender por não ter seguido esse caminho. É interessante acompanhar o desenrolar da história, e mais importante do que isso é a mensagem que o filme reforça: a vingança não compensa. Por mais que, em algumas situações, a justiça se mostre falha, fazer justiça com as próprias mãos é a mesma coisa que comprar uma passagem de avião sem destino, só de ida. A vingança não se importa com contexto, não quer saber se a pessoa marcada para morrer é realmente culpada ou não; a vingança não quer nem mesmo saber se está passando dos limites, ela aceita e segue em frente. Segue em frente até ceifar a vida ou as vidas de quem julgou ser o problema. E após a vingança, o que resta? A morte que motivou a vingança não será desfeita. Além disso, a pessoa responsável pela vingança geralmente acaba com a vida de outra pessoa e com a sua própria. A vingança pode parecer justa, mas nunca será. O que mais marca no filme é que todos começam como pessoas normais, mas a vingança os cega. Eles ficam cegos a ponto de se olharem no espelho e nem se reconhecerem mais. Tornam-se extremamente perigosos para si mesmos e para a sociedade. Chan-wook envolve o espectador de tal forma que o filme termina de forma frenética. É como o sentimento de começar o dia num parque de diversões em um carrossel, e ao fim do dia, a última atração ser uma montanha-russa. E, apesar de ter alguns problemas e, em alguns momentos, parecer confuso, o filme aborda a vingança muito bem e entrega uma experiência que vai fazer qualquer um parar, nem que seja por um breve momento, para refletir: "A vingança vale a pena?".