Rambo: Até o Fim

Rambo: Até o Fim (2019)

Dirigido por Adrian Grünberg


Título original
Rambo: Last Blood
Lançamento
19/09/2019
Gêneros
Ação, Thriller, Drama
Duração
1h 41m
Sinopse
O tempo passou para Rambo, agora ele vive recluso e trabalha em um rancho que fica na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Sua vida antiga marcada por lutas violentas, mas quase sempre vitoriosas, ficou no passado. No entanto, quando a filha de um amigo é sequestrada, Rambo não consegue controlar seu ímpeto por justiça e resolve enfrentar um dos mais perigosos cartéis do México.
Elenco
6.0

Publicado em 01 de agosto de 2024

Rambo: Até o Fim

Por Vandeson NunesVandeson Nunes

Tempo estimado de leitura: 5 minutos

Tudo o que o ex-combatente John Rambo queria era viver em paz. E após ter vivenciado a infernal Guerra do Vietnã, encarar o preconceito da sociedade com os veteranos que voltavam ao solo americano, o descaso com os prisioneiros de guerra que ficaram para trás e se envolver em novos e sangrentos conflitos, um dos mais notórios personagens da década de 80 e da carreira do ator Sylvester Stallone parecia ter encontrado o sossego que tanto precisava no epílogo de Rambo IV (2008). Ainda que acompanhado de seus traumas e pesadelos, sua vida de matanças e dores ficou para trás assim que ele cruzou o portão da fazenda de sua família no Arizona, depois de muitos anos afastado. Mas em Hollywood, o fim nem sempre é certo. Rambo: Até o Fim é um longa que retira Rambo de sua aposentadoria para enfrentar um cartel mexicano, quando na verdade seus maiores inimigos são a ganância dos produtores e a grande expectativa de um público nostálgico. Na trama, o septuagenário e agora rancheiro Rambo vive uma vida aparentemente tranquila com sua sobrinha adotiva Gabriela (Yvette Monreal), a quem considera uma filha, e a avó dela, Maria (Adriana Barraza, indicada ao Oscar por Babel). Aparentemente, pois a todo momento ele luta internamente para que a máquina de matar adormecida nele não venha à tona. Sua vida se complica quando Gabriela vai ao México em busca do pai que a abandonou e é raptada por uma quadrilha de traficantes de mulheres, fazendo com que Rambo vá ao seu resgate e declare guerra contra os criminosos. Apenas com essa simples premissa é possível notar que a trama possui um tom mais minimalista, em grande parte devido à condição física de Rambo (e de Stallone), que não permite que certas façanhas sejam executadas. Numa franquia recheada de tiroteios e explosões bélicas, isso até poderia causar certo estranhamento, mas que poderia ser contornado com um roteiro bem desenvolvido, algo que Rambo: Até o Fim definitivamente não possui. O texto, escrito por Stallone e Matt Cirulnick, opta por copiar o tão manjado plot de Busca Implacável, mas com muito mais previsibilidade e poucas novidades, demonstrando a preguiça e falta de originalidade dos roteiristas. Diálogos bastante expositivos, situações descartáveis (o encontro de Gabriela com o pai não acrescenta em nada à história) e uma retratação clichê do México (cuja fotografia conta com o obrigatório tom amarelado nos planos abertos) e seus criminosos não ajudam muito (o vilão principal só não é o pior da franquia porque tem mais falas que o pedófilo sanguinário de Rambo IV). Mas talvez o grande deslize da produção seja não honrar a mitologia da franquia oitentista. Pela primeira vez sem a faixa na cabeça e sua vasta cabeleira, o protagonista funciona como o único elo com o passado, já que nada acontecido é revisitado e reapresentado. Caso o título do longa e seu protagonista mudassem de nomes, facilmente poderíamos aceitar que se trata de mais uma produção genérica envolvendo Stallone, vide seus trabalhos como ator e roteirista em Os Mercenários, Linha de Frente, Alvo Duplo etc., e até aceitar como uma cópia divertida do filme de Liam Neeson, mas tudo soa repetitivo e arrastado. As cenas de ação, que tardam bastante para chegar, perdem feio até para o primeiro filme, de 1982. Os tiros e mortes aqui não alcançam o nível de tensão e entretenimento que se esperava, cedendo lugar a uma sucessão de cenas gore, mas longe do impacto e visceralidade do 4º filme do personagem. São cabeças explodindo, membros sendo arrancados a golpes de facas e outras trucidações que causam impacto, mas não permanecem por muito tempo na memória, como Rambo cauterizando uma ferida com pólvora, em Rambo III, ou até quando ele transforma um soldado birmanês em mingau com uma metralhadora em Rambo IV. Como esperado, Stallone entrega uma boa atuação no papel de um Rambo mais humanizado após dez anos de readaptação, possuindo boa química com Barraza e a jovem Monreal, que se sai muito bem. As angústias e sofrimentos do personagem são passados com eficiência ao público graças a sua performance e situações em que ele é colocado. O longa ainda conta com a sumida atriz Paz Vega, de Lucia e o Sexo e Espanglês, como uma jornalista mexicana que auxilia o protagonista e que conta com um plot que poderia ser melhor explorado caso ela tivesse mais tempo em tela. Desnecessário e esquecível, Rambo: Até o Fim não faz jus ao emblemático personagem que moldou o cinema brucutu dos anos 80. Se você desligar o cérebro e não se importar com clichês e previsibilidade, poderá ganhar até uma boa e rápida sessão escapista. Mas se você, nostálgico(a) que cresceu numa época em que a censura na TV não era tão forte (eu assisti Rambo: Programado para Matar na Sessão da Tarde), assistia ao desenho animado amenizado do personagem, tinha a lancheira do Rambo e urrava cada vez que o personagem detonava algum inimigo, ganhará uma grande decepção. Melhor se limitar aos quatro filmes e ao livro original de David Morrell, que declarou seu desgosto com essa nova sequência. Tomara que após esse deslize, Stallone e os produtores deem a Rambo a paz que ele tanto merece.