Infiltrado Na Klan

Infiltrado Na Klan (2018)

Dirigido por Spike Lee


Título original
BlacKkKlansman
Lançamento
09/08/2018
Gêneros
Comédia, Crime, Drama, História
Duração
2h 8m
Sinopse
Em 1978, Ron Stallworth, um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.
Elenco

Avaliação média
10.0
10.0

Publicado em 29 de janeiro de 2024

Infiltrado Na Klan

Por Vandeson NunesVandeson Nunes

Se há algum cineasta que consegue conversar com o público sobre intolerância racial com precisão e experiência, com certeza é o americano Spike Lee. Com uma carreira iniciada no fim da década de 80, Lee sempre abordou de modo incisivo o racismo, problema ainda frequente na sociedade, como se pode notar em obras como Faça a Coisa Certa, o estupendo O Verão de Sam e no seu filme mais ambicioso, Malcolm X, cinebiografia do famoso e importante militante. Com Infiltrado na Klan não é diferente. O longa é baseado na inacreditável história do policial Ron Stallworth e no seu livro, Black Klansman, publicado em 2014. Mesclando suspense policial com o habitual humor ácido de Lee, a trama se passa na década de 70, época em que os EUA passavam por uma revolução social envolvendo vários grupos raciais. Com algumas barreiras sendo derrubadas aos poucos, o policial Stallworth (John David Washington, da série Ballers) se torna o primeiro negro a integrar a polícia de Colorado Springs. O rapaz acaba sendo designado pra trabalhar disfarçado, se enturmando num grupo de militantes a favor dos afro descendentes e, intimamente, com a presidente do grupo, Patrice (Laura Harrier, de Homem-Aranha: De Volta ao Lar) ao mesmo tempo que se envolve numa arriscada missão: se infiltrar na Ku Klux Klan – organização de extrema-direita que defende a supremacia branca e que está a ponto de declarar uma guerra racial contra o grupo de Patrice. Para isso ele contará com o apoio de Flip Zimmerman (Adam Driver, de Silêncio), policial judeu que se passará pelo próprio Stallworth para espionar e ganhar a confiança da preconceituosa seita. Através dos diálogos entre Ron e Patrice e da participação do protagonista num intenso debate de um líder revolucionário (um show de atuação de Ato Blankson-Wood), o público é conduzido a um estudo sobre os direitos da população negra e o combate contra humilhações e opressões vividas, destacando o abuso da polícia. Da mesma forma, Infiltrado na Klan também esmiúça toda a raiva e preconceito da KKK, bem como seus rituais envolvendo batismos e cruzes queimadas. O momento que melhor representa essas diferentes linhas ideológicas envolve duas reuniões dos dois grupos, onde as cenas e discursos se se alternam para nós convencer de qual lado está corrompido: a dos negros, contando com um testemunho visceral do ator e músico Harry Belafonte sobre um crime cometido contra uma rapaz negro na década de 10, arrancará arrepios de qualquer espectador; já no encontro da Klan presenciamos o líder da seita, David Duke, cuspindo ódio e discriminação disfarçados, ao mesmo tempo que alega que estudos científicos comprovam a “perfeição” da raça ariana. Alguns podem acreditar que Lee pode ter sido um manipulador, dado o seu histórico militante, mas é difícil não enxergar a realidade por trás de cada frase do ato presente ali. São cenas fortes como um soco no estômago, amenizadas por pontuais diálogos cômicos. Tecnicamente, Infiltrado na Klan é um espetáculo. A fotografia de Chayse Irven captura o espírito dos anos 70, destacando a cor marrom e outros tons escuros. A direção de arte e figurinos também estão perfeitos, bem como a trilha sonora de Terence Blanchard (responsável por outros trabalhos de Lee, como A Última Hora e O Plano Perfeito), auxiliada por grandes músicas da época. Felizmente, o longa ainda encontra espaço para referências cinematográficas, sejam elas homenageando o Blaxploitation (com citações a clássicos como Shaft e Superfly e a musa setentista Pam Grier) ou obras do começo do século 20, como E o Vento Levou e o controverso O Nascimento de uma Nação (primeira grande produção do cinema, marcada pelo forte apelo racista e por motivar o crescimento da KKK). Como ocorre em qualquer produção do cineasta, o elenco está excelente. Como Ron, Washington repassa toda a raiva reprimida com eficácia, além de ser dono de ótimas tiradas cômicas. Pelo visto, ele herdou o talento do pai, o veterano Denzel Washington. Sem nenhuma surpresa, Adam Driver entrega mais uma ótima atuação, dessa vez com grandes chances de garantir sua indicação na academia. Seu Flip é um show de desenvolvimento, uma vez que não é um judeu praticante, mas as obscenidades que presencia na Klan o fazem rever seus conceitos. Por fim, vale destacar a performance de Topher Grace como David Duke, emprestando ao supremacista uma comicidade boba que casa perfeitamente com as idiotices do personagem (real), trazendo alguns trejeitos de seu Eric Forman, do saudoso seriado That ’70s Show. Encerrando Infiltrado na Klan com cenas reais dos protestos em Charlottesville ocorridos em 2017, Spike Lee comprova que o racismo se faz presente na nossa sociedade e que precisa ser debatido e combatido. E com seu filme, o diretor não apenas nos faz encarar o problema como também entrega um dos melhores longas de sua filmografia.