Nós

Nós (2019)

Dirigido por Jordan Peele


Título original
Us
Lançamento
14/03/2019
Gêneros
Terror, Thriller
Duração
2h 0m
Sinopse
Adelaide e Gabe levam a família para passar um fim de semana na praia e descansar. Eles começam a aproveitar o ensolarado local, mas a chegada de um grupo misterioso muda tudo e a família se torna refém de seres com aparências iguais às suas.
Elenco

Avaliação média
9.0
9.0

Publicado em 22 de janeiro de 2024

Nós

Por Vandeson NunesVandeson Nunes

Um pensamento obtido ao fim da sessão do longa Nós é de que o seu diretor, Jordan Peele (também creditado como roteirista e produtor) estudou com afinco e paixão não só a metalinguagem do cinema de horror como também do cinema em geral. Ainda colhendo fama e reconhecimento graças ao seu filme de estreia, o estupendo Corra!, que lhe rendeu, entre vários prêmios, o Oscar de melhor roteiro original, Peele consegue novamente mesclar temas socialmente atuais com um suspense bem orquestrado, usando várias referências cinematográficas. O perfeccionismo sufocante de Kubrick, o simbolismo de Von Trier, as alegorias de Aronofsky, o surrealismo de David Lynch e até a tensão frente ao desconhecido e inesperado mostrado por John Carpenter em seu clássico Halloween são alguns itens estudados e utilizados por Peele para compor uma quebra nos paradigmas do gênero terror. Sim, terror, pois diferente de Corra!, Nós presenteia o público com momentos de suar frio, ocasionalmente repletas de cenas sangrentas, mas com o bem vindo diferencial de que nada ali será por acaso e de que muitos clichês serão desconstruídos. Sem contar o fato de, assim como Shyamalan, o diretor enche o longa de mensagens e cenas que precisam ser observadas com o máximo de atenção se você, espectador, deseja montar esse quebra-cabeça insano e contemplar a obra inteira. E boa sorte com isso. Com apenas os primeiros minutos de projeção, Nós já fisga a atenção do espectador e entrega praticamente um curta metragem mais tenso que muitas obras pretensiosas, coroada com uma tenebrosa sequência de créditos iniciais (cortesia da assustadora canção Anthem). Aparentemente destoando do que vem a seguir, a cena é repleta de elementos que serão essenciais para a compreensão do longa. Com a apresentação do núcleo familiar e suas distintas personalidades, o primeiro ato do longa se fecha perfeitamente, cedendo espaço para um bom filme sobre invasão domiciliar, com ecos dos ótimos e violentos Martyrs e A Invasora. Com boas sequências de lutas e perseguições, o segundo ato funciona bem, preparando o terreno para as “explicações” do que diabo está acontecendo, uma revelação mindfuck que renderá longos debates. Engana-se quem acha que racismo será um tema novamente debatido por Peele pelo fato de usar atores negros nos papéis principais. O que nos é apresentado é um estudo sobre a sociedade e as pessoas menos favorecidas, sobre como o ser humano repele seus instintos mais primitivos e o que acontece quando os libera. A trilha sonora de Michael Abels, repleta de tambores e violinos tímidos, consegue deixar o clima claustrofóbico, auxiliado por uma edição eficiente e um trabalho de fotografia simetricamente belo. O elenco é estupendo, mostrando o quão o cineasta tem um exímio comando de atores. A oscarizada Lupita Nyong’o está mais uma vez sensacional, tanto no papel de Addy, uma personagem que sofre uma incrível transformação, como no papel de sua cópia, Red, que possui uma voz de causar calafrios. Servindo de alívio cômico completamente funcional, Winston Duke quebra a ideia de que o chefe da família é corajoso e bruto o bastante para protegê-la, passando boa parte da projeção sofrendo e cedendo a Addy o cargo de durona. Se crianças em filmes de terror costumam só gritar e fazer caras de medo, aqui é diferente, mais uma vez. Passando o impacto inicial, os filhos do casal também se revelam durões a ponto confrontar a estranha ameaça, com ótimos trabalhos dos jovens atores. Impactante, reflexivo e acima de tudo assustador como um bom filme de terror deve ser, Nós confirma que apesar de poucos filmes entregues, Jordan Peele é o nome do momento quando se trata de chocar o público, seja por suas cenas tensas ou pelo fato de que a realidade debatida em suas obras consegue chocar mais do que o surreal.