Anatomia de Uma Queda

Anatomia de Uma Queda (2023)

Dirigido por Justine Triet


Título original
Anatomie d'une chute
Lançamento
13/08/2023
Gêneros
Drama, Mistério
Duração
2h 31m
Sinopse
Uma mulher é suspeita do assassinato de seu marido, e seu filho cego enfrenta um dilema moral como única testemunha.
Elenco
9.0

Publicado em 24 de janeiro de 2024

Anatomia de Uma Queda

Por Renato FrançaRenato França

Tempo estimado de leitura: 4 minutos

"Anatomia de Uma Queda" é um filme francês lançado em 2023 cujo título original chama-se "Anatomie d'une chute". Dirigido por Justine Triet e roteiro co-escrito por Triet e Arthur Harari, o filme conta com Sandra Hüller no papel principal no qual interpreta Sandra Voyter, Swann Arlaud vive o personagem de Maître Vincent Renzi e Milo Machado-Graner é o jovem Daniel. O filme recebeu 5 indicações para o Oscar de 2024 e apesar de ser um filme francês, boa parte do filme é falada em inglês. Foi aclamado pela crítica e vencedor do Palma de Ouro no festival de Cannes de 2023, além de ter ganho outras premiações no Globo de Ouro de 2024. Um fato curioso é que Triet, em uma entrevista para o site de notícias americano Deadline, confessou que escreveu o roteiro já pensando em Hüller no papel principal. Elas já haviam trabalhado juntas no filme "Sibyl" de 2019. Na trama, a escritora Sandra Voyter é uma das principais suspeitas do assassinato do seu marido, Samuel Maleski. Toda construção e evolução do enredo, é feita sem correria. Como o assassinato é o tema central, tem-se todas as mais de duas horas focadas em desenvolver os mistérios ali presentes, onde o filho cego do casal é a única testemunha da morte do pai. Triet consegue prender a atenção do espectador o filme inteiro, à espera de respostas. A diretora consegue explorar diversas camadas dos personagens, revelando certos aspectos em momento oportuno. Isso, por sua vez, leva o espectador a refletir sobre os acontecimentos do filme. O filme tem vários pontos de destaque. E um deles é bem marcante, quando em determinado momento um personagem é colocado em uma situação de desconforto, a câmera se move de um lado para o outro rapidamente e várias vezes seguidas, causando uma sensação de desconforto também no espectador. Outro momento marcante é quando um personagem está relembrando algo ocorrido anteriormente, ao narrar o fato o filme mostra cenas do ocorrido mas com a voz sobreposta pelo narrador em total sincronia labial. E por fim, provavelmente o que mais marca no filme é a música P.I.M.P de 50 Cent. Dificilmente quem assiste ao filme não fica com essa música na cabeça. Não só por ter sido repetida diversas vezes, mas por estar vinculada a uma narrativa importante do filme. A narrativa do filme não teria todo o seu brilho se não fosse pelas atuações acima da média do elenco. Sem dúvida o destaque fica com Sandra Hüller, que recebeu merecidamente a indicação de melhor atriz pela primeira vez na carreira ao interpretar a escritora Voyter. Ela sustenta o filme do início ao fim com sua atuação transitando nos mais diversos sentimentos vividos pela sua personagem. É incrível como ela consegue passar os sentimentos que a personagem precisa em diversos momentos do filme, fica muito evidente e é algo que nem toda atriz ou ator consegue fazer no nível de excelência realizado por Hüller. "Anatomia de Uma Queda" aborda um possível assassinato, mas também aborda a complexidade de um relacionamento entre duas pessoas. Faz refletir sobre o papel dos pais com os filhos, responsabilidades, culpas, etc. Diga-se de passagem que o filme tem coragem de inverter certos papéis e evidenciar isso para que seja refletido. Na sociedade de hoje é muito comum visualizar a mulher no papel de abdicação, seja de trabalho ou estudos, para cuidar da família. Enquanto o homem trabalha para garantir o sustento da família. O que acontece quando esses papéis são invertidos? Quebra-se o paradigma de "família perfeita"? Ou existe uma família perfeita onde a mãe trabalha e o pai cuida dos filhos? O filme consegue trabalhar esses e outros questionamentos de maneira muito competente. Interpretações, roteiro, montagem, som, Triet consegue unir tudo isso de forma coesa e conta uma história que no fim faz o espectador refletir sobre si mesmo, sobre sua família e sobre a vida. A vida passa, mas o que é feito em vida fica para a posteridade. Seja para um número maior de pessoas, ou para um número menor. O homem criou regras para poder viver em sociedade e haver um mínimo de organização possível, mas nem tudo consegue ser resolvido perante a lei, algumas coisas acabam nunca sendo descobertas. Cabe a cada um fazer uma autocrítica e discernir o certo do errado. No final, a única pessoa que sabe tudo que ela fez, é ela mesma.