Dirigido por Darren Aronofsky
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Não há como sair de uma sessão de um filme dirigido por Darren Aronofsky sem a sensação de ter presenciado algo reflexivo e/ou perturbador. Réquiem para um Sonho, A Fonte da Vida e Cisne Negro, obras merecidamente cultuadas, são exemplos de como o diretor costuma estudar intensamente a psicologia e a natureza humanas através de temas como amor, obsessão e sofrimento. Temas usados novamente em Mãe!, um impactante trabalho que gera várias discussões até hoje. Uma experiência visual visceral e angustiante nos aguarda quando passamos a acompanhar o martírio da jovem protagonista (Jennifer Lawrence). Totalmente dedicada ao marido (Javier Bardem), um escritor em crise, e à recém-reformada casa que habitam, a anônima mulher mergulha num pesadelo surreal e bíblico quando o esposo passa a abrigar um estranho casal (os excelentes Ed Harris e Michelle Pfeiffer). Essa premissa é o bastante para Aronofsky exercitar uma explícita alegoria religiosa, algo já indicado por um dos pôsteres do filme, focado no belo e virginal rosto de Lawrence. Mesmo já tendo abordado religião no blockbuster Noé, é em Mãe! onde o diretor (e roteirista do longa) é mais incisivo. Toda a jornada de sofrimento da mulher para salvar sua sanidade e família é permeada de referências à perdição humana, ao pecado e, principalmente, ao amor devoto, resultando num terceiro ato onde o caos e a claustrofobia reinam. Por cortesia da fotografia de Matthew Libatique e da edição primorosa de Andrew Weisblum, Aronofsky nos mergulha nesse ambiente sensorial, com a câmera (e nós) seguindo a protagonista pela casa, com direito a uma sequência tensa e explosiva (!) que eu, particularmente, não via desde o excepcional Filhos da Esperança. Simples, mas eficaz, a direção de arte faz da casa uma personagem por quem nos afeiçoamos (ainda mais se certa metáfora sobre ela e a humanidade for absorvida). Possuindo a solidão de Randy “The Ram” Robinson (O Lutador), a dor de Marion Silver (Réquiem para um Sonho) e o afastamento da realidade de Nina (Cisne Negro), a jovem anônima de Jennifer Lawrence é um conjunto de emoções perfeitamente capturadas e compartilhadas conosco. A atriz tem mais uma ótima atuação, que merecia mais reconhecimento em premiações. Vale ressaltar também Javier Bardem, brilhante como um homem vaidoso, obsessivo e que precisa ser amado. Vendido erroneamente como um filme de terror, Mãe! é um suspense realmente discutível. Quando o longa termina e enfim podemos respirar com mais facilidade, nota-se que Aronofsky entregou o seu mais corajoso e metafórico filme. Pode não ser de fácil entendimento ou apreciação, mas é uma obra que necessita de um caloroso debate reflexivo.