mãe!

mãe! (2017)

Dirigido por Darren Aronofsky


Título original
mother!
Lançamento
13/09/2017
Gêneros
Drama, Thriller, Terror
Duração
2h 1m
Sinopse
Um casal vive em um imenso casarão no campo. Enquanto a jovem esposa passa os dias restaurando o lugar, afetado por um incêndio no passado, o marido mais velho tenta desesperadamente recuperar a inspiração para voltar a escrever os poemas que o tornaram famoso. Os dias pacíficos se transformam com a chegada de visitantes que se impõem à rotina do casal e escondem suas verdadeiras intenções.
Elenco

Avaliação média
10.0
10.0

Publicado em 07 de agosto de 2024

mãe!

Por Vandeson NunesVandeson Nunes

Não há como sair de uma sessão de um filme dirigido por Darren Aronofsky sem a sensação de ter presenciado algo reflexivo e/ou perturbador. Réquiem para um Sonho, A Fonte da Vida e Cisne Negro, obras merecidamente cultuadas, são exemplos de como o diretor costuma estudar intensamente a psicologia e a natureza humanas através de temas como amor, obsessão e sofrimento. Temas usados novamente em Mãe!, um impactante trabalho que gera várias discussões até hoje. Uma experiência visual visceral e angustiante nos aguarda quando passamos a acompanhar o martírio da jovem protagonista (Jennifer Lawrence). Totalmente dedicada ao marido (Javier Bardem), um escritor em crise, e à recém-reformada casa que habitam, a anônima mulher mergulha num pesadelo surreal e bíblico quando o esposo passa a abrigar um estranho casal (os excelentes Ed Harris e Michelle Pfeiffer). Essa premissa é o bastante para Aronofsky exercitar uma explícita alegoria religiosa, algo já indicado por um dos pôsteres do filme, focado no belo e virginal rosto de Lawrence. Mesmo já tendo abordado religião no blockbuster Noé, é em Mãe! onde o diretor (e roteirista do longa) é mais incisivo. Toda a jornada de sofrimento da mulher para salvar sua sanidade e família é permeada de referências à perdição humana, ao pecado e, principalmente, ao amor devoto, resultando num terceiro ato onde o caos e a claustrofobia reinam. Por cortesia da fotografia de Matthew Libatique e da edição primorosa de Andrew Weisblum, Aronofsky nos mergulha nesse ambiente sensorial, com a câmera (e nós) seguindo a protagonista pela casa, com direito a uma sequência tensa e explosiva (!) que eu, particularmente, não via desde o excepcional Filhos da Esperança. Simples, mas eficaz, a direção de arte faz da casa uma personagem por quem nos afeiçoamos (ainda mais se certa metáfora sobre ela e a humanidade for absorvida). Possuindo a solidão de Randy “The Ram” Robinson (O Lutador), a dor de Marion Silver (Réquiem para um Sonho) e o afastamento da realidade de Nina (Cisne Negro), a jovem anônima de Jennifer Lawrence é um conjunto de emoções perfeitamente capturadas e compartilhadas conosco. A atriz tem mais uma ótima atuação, que merecia mais reconhecimento em premiações. Vale ressaltar também Javier Bardem, brilhante como um homem vaidoso, obsessivo e que precisa ser amado. Vendido erroneamente como um filme de terror, Mãe! é um suspense realmente discutível. Quando o longa termina e enfim podemos respirar com mais facilidade, nota-se que Aronofsky entregou o seu mais corajoso e metafórico filme. Pode não ser de fácil entendimento ou apreciação, mas é uma obra que necessita de um caloroso debate reflexivo.